domingo, 27 de fevereiro de 2011



Acabo de retornar de uma viagem de 2 meses e meio por parte da América Latina, em breve coloco algo sobre essa experiência memorável. Por enquanto um texto que fiz antes de viajar.


Beijos ao Delírio



Bêbado ele trepida
entre a superação no autoconhecimento
e o malfadado tormento de viver uma negação
da vida.

Já não lhe interessa se é sujeito
ou se está sujeito a algo que nem é.
Não importam Deus, carne, riqueza,
indivíduo, coletivo, círculo, quadrado, deuses...

Somente faz sentido seguir, cambaleante,
em direção ao lugar do início
do big-bang que deu origem a seu respirar;
do vício que deu origem a este Eu
que não mais lembra de onde veio.

Eu que subsiste entre a umbra e o nirvana;
preso a incapacidade de expressar-se
por ver-se mudo e ignorante,
ante a contemplação do presente...

Momento, instante, segundo..., nada disso serve
à descrição deste agora preenchido por tudo e cheio de vazio.
Agora que some com o tempo e o espaço,
destripa fatos, estupra valores,
acaricia idéias e goza
experiências sobre situações impossíveis ao mundano.

Delírio,
pode ser uma boa palavra
para descrever este Agora onde não há palavras;
pode ser a conseqüência de fugir da quimioterapia
para encher mais um copo;
pode ser a máscara usada pela epifania
para esconder-se dos dogmas do corpo;
pode ser...

Sei que em breve não haverá luzes
ou qualquer outra coisa,
mas também que esse “em breve”
somente chegará quando cessar o Delírio
e nascer o momento em que volto a ser mortal.

Então aqui, onde ainda me resta imortalidade,
uso de todas minhas vozes,
mesmo as inauditas ou impronunciáveis,
para batalhar contra o inefável
e tentar mostrar o quanto te quero:

É muito mais que algo que dói e não se sente,
que o sorriso beirando a saudade
ou a nostalgia que esmaga o sofrer.
É um algo que não sei
sentir, lembrar ou dizer;
que simplesmente surge cada vez que...,
de dentro de mim,
vejo a ti.


Sono the Idle, 22/10/10.